Caminhos Percorridos

Há exatos vinte anos ingressei no curso de Psicologia da PUC-SP. No decorrer da graduação me deparei com muitas referências e abordagens.
Observei atenta cada uma delas, naveguei, mergulhei em algumas, questionei, aprendi e tantas vezes me surpreendi. Acredito que não existem verdades absolutas e que os olhares são complementares. Anos atrás uma supervisora me apresentou o conceito de "atravessamento de paradigmas" - que contempla terapeutas "marginais", àqueles que caminham nas bordas e não se acomodam. Carrego em mim esta inquietação, assim como o desejo de seguir meu percurso realizando atravessamentos.
Lembro-me da fala de um professor: "vocês precisam conhecer pessoas, observá-las e ouvi-las, não se prendam a um espaço, elas estão aí, na padaria, no ponto de ônibus, ao seu lado, em todos os lugares...". Uma mensagem simples e verdadeira: a teoria é essencial mas a melhor maneira de aprender sobre as pessoas é estar com pessoas e, sem dúvida, a singularidade da história de cada um é o que me encanta.
Atuar no contexto clínico é colocar a cada volta no relógio o foco em único ser, utilizar a escuta como ferramenta de trabalho e apostar no vínculo como ingrediente essencial.
Cada um desenha a sua trajetória de acordo com os interesses e oportunidades que surgem no caminhar. As possibilidades de atuação são infinitas.
Minha primeira experiência profissional foi em um hospital geral. Animada e sonhadora, passava por corredores e leitos com a intenção de transportar, através de histórias e brincadeiras, crianças internadas para um outro local, para outro espaço, para o mundo da fantasia - mesmo que apenas por alguns instantes.
Neste trilhar os caminhos foram se abrindo. E, em um dia de chuva, enquanto descia a Avenida Rebouças em direção ao estacionamento - à época tinha iniciado estágio como recreacionista no Instituto do Coração (Incor) - esbarrei numa colega que havia ingressado na área de Neuropsicologia no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (IPq-HCFMUSP).
Um acaso que despertou curiosidade e vontade de saber mais sobre uma área que eu pouco sabia. Por sorte ou destino, semanas depois preenchi a vaga que ficou em aberto naquele ano. Abracei a oportunidade e foi nessa grande "escola" que, em paralelo a graduação, iniciei meus primeiros atendimentos, aprendi a importância da pesquisa para a produção de conhecimento, conheci profissionais incríveis, fiz a formação em Neuropsicologia e permaneci até me tornar mestre. Hoje as visitas por lá são esporádicas, para assistir ou ministrar aulas, mas sempre me emocionam, enchem meu coração de alegria e me trazem vontade de voltar. Em um outro momento da vida... para um novo projeto talvez.
A prática clínica sempre foi e permanece como minha "menina dos olhos", contudo ela também me guiou para além dos trajetos conhecidas e previsíveis. A demanda frequente relacionada ao aprender, ou melhor, a dificuldade para o aprender me levou a bater na parta da Psicopedagogia. Há dez anos, adentrei na área da educação e, aos poucos, ano a ano, me vi encantada mais uma vez.
Nos dias atuais dedico-me com amor e prazer à área clínica - neste consultório - e institucional, como orientadora educacional de apoio à aprendizagem em um colégio particular de São Paulo.
Adrielle Camara
"Sonha menina. Mas sonha muito. Dizem por aí que somos do tamanho daquilo que sonhamos..."